Você tem seu passaporte diplomático e seu passaporte regular, certo? Perguntei a ele na noite anterior que ele estava programado para me deixar.
Mooommmm, meu garoto de 15 anos gemeu e revirou os olhos. Já fiz isso antes, lembra?
Hoje de manhã, ele está deixando Moscou, onde moramos, e voando para a Romênia com o time de beisebol de sua escola, sem mim.
Ele está certo de que já fez isso antes. Como aluno de uma escola internacional, ele viaja sem fronteiras pelos pais desde que chegou ao sexto ano. Ele esteve em todos os tipos de lugares, de Dubai a Cingapura, sem que eu estivesse pronta para gerenciar seus passaportes ou localizar o banheiro mais próximo. Então, eu sei, pelo menos em nÃvel intelectual, que ele é capaz de fazer as malas e chegar onde precisa. Mas de alguma forma eu não consigo entender o fato de que esse meu pequeno garoto pode fazer essas coisas sem mim.
A primeira vez que voei de avião, eu era um estudante universitário de 20 anos, com um semestre no exterior. Sendo a segurança o que era na época, meus pais conseguiram me levar até o portão do Aeroporto Internacional de Los Angeles e despedir-se do avião que se afastava.
Minha filha de 15 anos, a mais velha de quatro, cresceu de maneira diferente. Como filho de um diplomata, ele tem dois passaportes – o diplomático para uso no exterior e o regular para uso quando volta para casa nos Estados Unidos. Ele embarcou em seu primeiro avião com 5 semanas de idade. Não sei quantos paÃses ele já visitou. 15? 20? No entanto, eu ainda não gosto de colocá-lo em um avião sem mim. Isso destrói a ilusão de que eu posso mantê-lo seguro.
As crianças diplomatas são diferentes. Eles são capazes de ler a linguagem corporal de uma maneira que as crianças comuns normalmente não conseguem. Eles precisam aprender a fazer isso quando trocam de escola com tanta frequência e fazem amizade com tantas crianças não americanas. Eles também são bastante inteligentes em relação ao mundo. Meus filhos podem encontrar a Palestina em um mapa e explicar as razões pelas quais você pode não vê-la em alguns mapas. Eles podem navegar sozinhos no metrô de Moscou. Eles podem pedir sanduÃches de falafel, em árabe, em Amã ou em Jerusalém. Às vezes fico surpreso com as coisas que eles podem fazer que ainda me aterrorizam, sua mãe menos aventureira, à s vezes. Estou impressionado e orgulhoso.
Mas existem outras coisas mais simples que eles não podem fazer.
Eles não podem marcar sua altura ano a ano na parede do quarto. Eles não podem nomear seu melhor amigo, aquele com quem estudam há dez anos, porque perdem seus amigos a cada rotação do verão, e os melhores amigos geralmente se afastam meio mundo. Eles não podem agendar festas do pijama de fim de semana com os avós e primos. Eles não podem andar de skate fora das calçadas no correio, talvez, ou muito risco de terrorismo.
Eu me pergunto ao ver meus quatro filhos crescerem: Vale a pena? Claro, eles andaram na Grande Muralha da China. Mergulharam os pés no mar Mediterrâneo, mergulharam com snorkel no mar vermelho e flutuaram no mar morto. Eles desceram geleiras, montaram camelos e olharam para o teto da Hagia Sophia. Apertaram as mãos dos presidentes e secretários de Estado.
Mas eles também se esconderam no porto seguro depois que um alarme da embaixada disparou. Eles choraram enquanto abraçavam amigos para sempre. Eles assistiram com medo enquanto seu pai, um agente especial do Serviço de Segurança Diplomática dos Departamentos Estaduais, corria para fora para impedir um intruso que chegasse ao complexo da embaixada. Eles foram desafiados na escola por outros estudantes que não gostavam de americanos. Eles viram o pai embarcar em um avião com destino ao Iraque, preocupado com quando ou não retornar.
A troca vale a pena? Quando crescerem, olharão para trás e pensarão no bem, ou reclamarão de perder uma infância normal?
Não há como saber, na verdade não. Percebo que estou criando crianças inteligentes e confiantes, capazes de crescer em ambientes complexos, multinacionais e multilÃngues. São crianças que não pensam duas vezes em ir ao Kuwait jogar beisebol. Mas também vejo que estou criando crianças com falhas e com cicatrizes que têm pesadelos em perder o pai para terroristas e que já aprenderam demais nas horas de vigÃlia sobre amor e perda.
Ele está me deixando agora, este meu primeiro filho. Apenas 15 anos e ele está muito longe para eu intervir se ele estiver com problemas. Às vezes, parece que a vida de serviço no exterior já estava me deixando supérflua. Há muitos anos, essa criança voou para o Cazaquistão arrastando uma bagagem de mão por Thomas the Tank Engine. Hoje ele fez sua própria mala e saiu sozinho pela porta da frente, indo para o aeroporto.
Eu estava andando pela casa vazia quando ouvi o zumbido do meu celular.
Mãe, disse o texto, eu esqueci. Uso meu passaporte diplomático ou o meu passaporte comum?
Acho que ele ainda precisa de mim, afinal.